Tarcísio quer impedir fiscalização do patrimônio de secretários e aliados

O governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos) prepara um decreto para desmontar uma das principais ferramentas de transparência do Estado de São Paulo. A gestão pretende revogar a norma em vigor desde 1997, criada por Mário Covas, que obriga a divulgação anual dos bens de secretários, chefes de autarquias e demais autoridades estaduais. Pela nova regra, os dados patrimoniais só serão divulgados no início e no fim da gestão, e não mais a cada ano.

A mudança foi confirmada pelo chefe da Controladoria-Geral do Estado (CGE), Wagner Rosário. Ele afirmou que, a partir do novo decreto, as declarações de bens deixarão de ser publicadas no Diário Oficial e ficarão restritas ao Portal da Transparência. “Nesse novo decreto, [a publicação] vai passar para a Controladoria e não vai ter mais a publicação pelo Diário Oficial. A gente vai publicar, a partir de agora, somente no Portal da Transparência”, disse. E completou: “Não vamos publicar ninguém mais ano a ano, vamos publicar na entrada e na saída [do governo]”.

Na prática, a mudança significa menos transparência justamente num momento em que o patrimônio de aliados do governador cresce de forma acelerada. Na última sexta-feira (22/8), a CGE divulgou no Diário Oficial as declarações referentes a 2024, com dados de 2023, primeiro ano da gestão Tarcísio. Na comparação com as informações de 2021, pelo menos quatro secretários dobraram seu patrimônio, entre eles o titular da Segurança Pública, Guilherme Derrite (PP).

Rosário tentou justificar a alteração alegando dificuldades de operação. Segundo ele, a atualização anual exige que servidores cobrem constantemente os secretários. “Eu tenho que colocar uma equipe ligando 24 horas por dia. O secretário não tem uma vida que ele está sentado no computador. Você liga e ele está viajando no exterior, está no interior, está em outro lugar. Quem acaba fazendo é um servidor, que tem que ficar ligando para chefe de gabinete. Então, sempre é um trabalho. Para mim, em termos de publicação, é mais fácil botar a entrada do que não vir [a declaração]”.

O próprio Tarcísio e o vice-governador, Felício Ramuth (PSD), já vinham descumprindo o decreto de Covas. Nos últimos dois anos, as publicações da CGE no Diário Oficial saíram sem qualquer informação patrimonial dos dois — uma violação direta da regra de 1997. A gestão não pretende corrigir a falha: vai apenas divulgar os bens de ambos com base na nova norma, incluindo as declarações de 2023. Como explicou Rosário: “As [declarações] que já estão, vão ficar publicadas. O que não está, eu vou publicar na entrada e na saída, que é como determina a Constituição (…) No momento em que ele [Tarcísio] entra, em 1º de janeiro, a declaração que estava vigente é a declaração de 2022”.

Em nota, o governo paulista alegou que não deixará de receber as declarações anuais, apenas de publicá-las. A gestão promete criar um sistema que fará análise automatizada dos dados, “permitindo identificar rapidamente eventuais indícios de evolução patrimonial incompatível. Este modelo evitará distorções ou falhas na publicidade dos dados e reforça o controle a partir de análises no decorrer da gestão”, diz o texto.

Ainda segundo o governo, os bens do governador, vice e secretários só serão divulgados no Portal da Transparência “na entrada e na saída do cargo, como determina a Constituição Estadual”. O comunicado também afirmou que “as medidas têm o objetivo reunir todas as informações em uma seção única no Portal da Transparência, eliminando a necessidade de buscas dispersas nas publicações do Diário Oficial, e, desta forma, organizar e facilitar o acesso à informação”.

Na prática, porém, o que Tarcísio chama de “modernização” significa enfraquecer um mecanismo de fiscalização criado há quase três décadas.

Compartilhe

Uma resposta

  1. Alguém dúvida do estilo autoritário do Tarcísio?
    por isso ele apoia tanto Trump, Governo autoritário ou ditador não há tanta diferença.

    fora Tarcísio !!!!!

Deixe um comentário para San Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *