Temer dá desconto de 60% em multas ambientais em troca de votos contra denúncia na Câmara

Às vésperas da votação da segunda denúncia na Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB) assinou no último sábado (21), um decreto permitindo descontos de até 60% nas multas ambientais de latifundiários. O valor restante é transformado em investimentos para recuperação de florestas. Ambientalistas e especialistas da área temem que a medida vise atender interesses ruralistas.

O deputado federal Sarney Filho, um dos nove licenciados do cargo de ministro para votar a favor de Temer, esteve em Miranda (MS), junto com o presidente para a assinatura do decreto, e explicou as diretrizes do uso dos recursos. Segundo ele, o objetivo é implantar medidas de conservação e recuperação de áreas como as microbacias que alimentam o rio São Francisco.

Segundo a presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Sualy Araújo, existem duas modalidades de conversão. Na modalidade direta, haverá um desconto de 35% no valor da multa e o próprio infrator ambiental será responsável pelo serviço ambiental. Na modalidade indireta, que é a prioritária, os descontos são de 60% no valor da multa. A presidente ainda afirma que atualmente infratores que pagam as multas à vista já têm desconto de 40%. Mesmo assim, só 5% das infrações são efetivamente pagas. “Os autuados vão à Justiça e não pagam nunca”, diz Araújo. Ela também afirma que a compensação em serviços não descarta a recuperação da área pela qual o infrator foi multado.

Porém, existem preocupações sobre a motivação para a assinatura do decreto nesta semana. No próximo dia 25, está prevista a votação na Câmara da segunda denúncia contra o presidente Michel Temer, apresentada pela PGR.

A aprovação do desconto nas multas é vista por especialistas como um agrado à bancada ruralista no Congresso e não como uma honesta preocupação ambiental.

A assinatura do decreto ocorreu poucos dias após a publicação de uma portaria que alterou as definições de trabalho análogo à escravidão e que, na prática, dificulta a fiscalização desse crime. Uma alteração que também é de interesse da bancada ruralista.

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