Senadores contra entrega de fiscalização ao agro

Parlamentares entram com requerimento para que PL de Bolsonaro, aprovado de forma terminativa em comissão do Senado, seja analisado no plenário da Casa

Em reação à decisão da Comissão da Agricultura e Reforma Agrária do Senado, que aprovou na quinta-feira (23) de forma terminativa o projeto de lei que transfere a fiscalização pelo governo das normas sanitárias do agronegócio para os próprios produtores, um grupo de mais de 10 senadores entrou com recurso, junto à presidência da Casa, para que a matéria seja encaminhada para análise no plenário, segundo reportagem do Uol.

O PL 1.293/2021 de iniciativa do governo Bolsonaro é apoiado pelas bancadas governistas da Câmara, onde foi aprovado, e do Senado, onde foi aprovado na comissão de forma terminativa e iria para sanção presidencial.

Para o senador Alessandro Vieira (PSDB-SE), que assinou o requerimento para que o assunto seja levado ao plenário da Casa, a aprovação do projeto “é mais uma ação no sentido de desmontar as estruturas de fiscalização do Estado, o que é profundamente negativo”.

“Esse projeto trata da fiscalização sanitária, que é uma coisa muito séria. Uma falha levaria a um grande dano à saúde coletiva do povo brasileiro”, alerta a senadora Zenaide Maia (Pros-RN), que também assinou o requerimento. “Pelo texto, nos produtos para exportação o controle de qualidade continua sendo estatal, mas para os produtos que vão para a mesa dos brasileiros vale o selo de qualidade emitido por alguém emitido pelo agro. Por quais motivos teríamos dois pesos e duas medidas?”, questiona.

O sanitarista Gonzalo Vecina, um dos fundadores da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), também critica o projeto. “Um país que tem o nível de impunidade adotar a autofiscalização é uma decisão que colocará em risco a saúde pública”, afirma.

Janus Pablo, presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais Federais Agropecuários (ANFFA), alerta que parte das atribuições da auditoria e fiscalização agropecuária do Estado seria transferida para entes privados. “Isso fragilizaria ainda mais a fiscalização e colocaria em risco tanto a segurança alimentar da população, como a qualidade dos alimentos”.

Janus dá exemplo de algumas mudanças que ocorreriam se o projeto for sancionado. “Hormônios passariam a ter o registro automático, sem a nossa avaliação, isso é um risco muito grande”, destaca. “Outro perigo é a saída dos auditores das plantas frigoríficas, ficaríamos só na posição de supervisão, realizando auditoria”.

O representante dos fiscais diz que a frequência de fiscalização, que em alguns casos hoje é de 24 horas, passaria para prazo muito maior, anual ou semestral, de acordo com o risco da empresa.

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