Procurador diz que investigar Bolsonaro por genocídio contra yanomamis “é uma linha bem consistente”

Luciano Mariz Maia afirma que Bolsonaro “desmantelou deliberadamente” os órgãos de proteção aos indígenas. “Não hesito em dizer que a situação é bem mais grave do que a que nós tivemos anteriormente”, disse o subprocurador-geral da República

O subprocurador-geral da República, Luciano Mariz Maia, afirmou que o governo Bolsonaro incentivou a presença de garimpeiros em terras indígenas e “enfraqueceu deliberadamente” a atuação de órgãos de controle para permitir a presença dos criminosos.

Maia atuou diretamente em um caso que levou à condenação por genocídio cinco garimpeiros ilegais que levaram à morte 16 yanomamis, em 1993.

“Não hesito em dizer que a situação é bem mais grave do que a que nós tivemos anteriormente”, disse o subprocurador.

Luciano Mariz Maia afirma que a situação se agravou durante o governo Bolsonaro principalmente pelo estímulo à entrada de garimpeiros na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, e pelo “desestímulo aos servidores do Ibama [Instituto Brasileiro de Meio Ambiente] e da Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas]”.

“Você passa a ter um deliberado enfraquecimento da presença do Estado, particularmente pelo desmantelamento da Funai e dos órgãos de proteção. Além, da presença de garimpeiros incentivada pelo Estado, que anunciava projeto de lei para liberar terra indígena”, disse em entrevista ao G1.

Para ele, a investigação contra Jair Bolsonaro pelo crime de genocídio é “consistente”. “O que eu posso afirmar é que é uma linha de investigação consistente. Agora, você precisa desenvolver um trabalho delicado, subindo a cadeia de comando”.

“O que eu posso afirmar, sem medo de errar, é que uma busca fácil no Google indicará discursos do presidente Bolsonaro claramente enfraquecendo as estruturas de fiscalização e proteção do Estado, dando incentivos e motivos aos garimpeiros para ocupação de terras indígenas”, continuou.

“Bolsonaro aumenta os fatores de risco. A probabilidade de o discurso dele ser levado adiante em uma atividade concreta é maior”, disse.

O Ministério Público Federal (MPF) afirmou, em nota, que o governo de Jair Bolsonaro estava totalmente ciente da catástrofe humanitária que vivia o povo yanomami, mas decidiu não fazer nada para salvar a vida daquelas pessoas, mesmo com decisões judiciais.

A catástrofe “resulta da omissão do Estado brasileiro em assegurar a proteção de suas terras” e pode ser caracterizada como genocídio. Já em 2021, procuradores enviaram documentos pedindo ações para combater a mortalidade infantil, malária e subnutrição, mas foram ignorados.

No dia 20 de janeiro, o presidente Lula declarou “emergência em saúde pública” e começou a levar médicos e outros profissionais para atuarem na proteção dos yanomamis.

O governo também anunciou medidas para combater o garimpo ilegal, entendendo ela como uma das causas da tragédia humanitárias. A Aeronáutica ficou responsável por controlar o espaço aéreo da Terra Indígena Yanomami.

Para o subprocurador Luciano Mariz Maia, essas medidas são “importantes”, “mas há a necessidade de uma sustentabilidade, que um programa como esse possa se tornar permanente. Ou seja, o controle do uso do espaço aéreo, o controle nos voos que vão para aquela região e o controle no funcionamento das casas que negociam com ouro”.

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