Como a propina da Andrade Gutierrez ao PT era repassada ao Vox Populi na campanha de Dilma

O quarto depoimento de Antonio Palocci à Polícia Federal (Termo de Colaboração nº 4) mostra como a propina que o PT recebia da Andrade Gutierrez era usada para pagar ao instituto de pesquisas Vox Populi (pertencente a Marcos Coimbra, João Francisco Pereira Meira e Milton Marques, com sede em Belo Horizonte).

O pagamento era dissimulado por contratos da própria Andrade Gutierrez (também sediada em Belo Horizonte) com o Vox Populi. As pesquisas eram para a campanha de Dilma, mas apareciam como se fossem para a Andrade Gutierrez.

O que Palocci descreve é esse mecanismo corrupto na campanha de Dilma, em 2010, quando ele era um dos coordenadores – e principal responsável pela arrecadação financeira.

O depoimento confirma os documentos já entregues pela Andrade Gutierrez (AG) – e, também, o depoimento do então presidente do grupo AG, Otávio Marques de Azevedo: “… os contratos celebrados entre a Andrade Gutierrez e o Instituto Vox Populi nos anos de 2010 e 2012, num valor total de aproximadamente R$ 11,5 milhões, tiveram por finalidade precípua o custeio de pesquisas eleitorais encomendadas pelo Partido dos Trabalhadores (PT) na campanha presidencial de 2010 e nas campanhas municipais de 2012”.

Há outra questão em que o depoimento de Palocci é coincidente com o de Azevedo: segundo este, a pressão para que a Andrade Gutierrez pagasse despesas da campanha de Dilma, partia, não de Palocci, mas do secretário de Dilma, Giles de Azevedo, e do então tesoureiro oficial da campanha, Edinho Silva.

No relato de Palocci, em depoimento no dia 13 de abril do ano passado, é exatamente Giles de Azevedo quem o avisa sobre a “disposição” da Andrade Gutierrez de pagar despesas da campanha de Dilma com o Vox Populi.

É preciso acrescentar que também em 2014 a Andrade Gutierrez pagou ao Vox Populi pesquisas para a campanha de Dilma – mais de R$ 10 milhões (v. Andrade diz que pagou pesquisas para Dilma em 2014 sem declarar, FSP 15/04/2016).

Nessa época, Palocci, depois do escândalo do apartamento nos Jardins, não esteve na linha de frente da campanha.

Porém, o método de dissimulação – como se as pesquisas fosse para a Andrade Gutierrez e não para a campanha de Dilma – foi exatamente o mesmo.

Estamos nos referindo, aqui, ao que entrou, da Andrade Gutierrez para as campanhas de Dilma, sem qualquer registro (melhor dizendo, sem nenhum registro verdadeiro – ou seja, via caixa 2).

Além disso, a Andrade Gutierrez entrou com R$ 5,1 milhões em 2010 e R$ 20 milhões em 2014, com via caixa 1 – ou seja, como doação oficial à campanha de Dilma.

Fora os seis milhões recebidos da Andrade Gutierrez através de uma agência que prestava serviços ao PT, a Pepper.

C.L.

Em seguida, os principais trechos do quarto depoimento de Palocci:

“… em 2010, foi responsável pela coordenação da campanha presidencial de Dilma Rousseff;

“… José Eduardo Cardozo e José Eduardo Dutra também eram coordenadores;

“… nesse contexto, o Partido dos Trabalhadores recebeu a informação de que a Andrade Gutierrez poderia arcar com os custos das pesquisas feitas pela empresa Vox Populi;

“… essa informação chegou ao conhecimento do colaborador por intermédio de Giles de Azevedo [secretário de Dilma];

“… foi-lhe informado que a Andrade Gutierrez preferia efetivar os pagamentos para o Partido dos Trabalhadores, à título de caixa dois, mediante depósitos para o Vox Populi, haja vista que a empresa já possuía grande contrato com a empresa, facilitando-se a dissimulação das ilicitudes das transferências;

“… essa informação foi reiterada e confirmada em futuras oportunidades por Otávio Marques de Azevedo;

“… Otávio também ofereceu pagamentos para extensão dos serviços que o PT precisasse junto ao Vox Populi;

“… o PT buscava a expansão das pesquisas, pois estava na iminência de se iniciar o período de propaganda eleitoral na televisão;

“… Otávio esclarecia que os pagamentos ao Vox Populi eram a melhor forma que a Andrade Gutierrez tinha de dar apoio ao PT, pois a empresa já teria um grande contrato com o instituto de pesquisas;

“… isso visava esconder o ilícito empresarial e eleitoral;

“… as pesquisas realizadas pelo Vox Populi não foram compradas para alteração dos resultados;

“… o partido desejava a produção das melhores pesquisas, pois eram utilizadas pela própria coordenação da campanha para orientação da forma de atuação;

“… esclarece que as pesquisas que não eram favoráveis ao Partido dos Trabalhadores eram mantidas sigilosas, ao passo que pesquisas favoráveis eram amplamente divulgadas ao público;

“… a ilicitude residia no pagamento de custos da campanha pela Andrade Gutierrez junto ao Vox Populi, dando-se portanto aparência de legalidade aos pagamentos feitos pela empresa;

“… os encontros com Otávio ocorreram na sede da Projeto [consultoria de Palocci] da Rua Ministro Rocha Azevedo, em poucos momentos, na própria sede da Andrade Gutierrez em São Paulo/SP, em ao menos 3 oportunidades, além de encontros com maior frequência na residência do colaborador na Asa Norte em Brasilia/DF, no período em que exercia mandato de Deputado Federal e coordenava a campanha de Dilma Rousseff;

“… indagado se mantinha contato com os responsáveis pelo Vox Populi, respondeu que sim, tendo mantido frequente contato durante a campanha de 2010, sempre via Skype, com Marcos Coimbra, uma vez que tal pessoa dizia não gostar de viajar de avião;

“… esteve poucas vezes presencialmente com Marcos Coimbra;

“… também tinha reuniões presenciais com João Francisco Pereira Meira [sócio do Vox Populi], vulgo Chico, que era a pessoa que mais atendia ao Partido dos Trabalhadores;

“… as reuniões ocorriam nos Comitês de Dilma Rousseff em Brasília/DF;

“… também houve encontro com Chico no Hotel Tívoli, na Alameda Santos, em São Paulo/SP, no qual divergiu de Chico sobre resultados de pesquisas e solicitou que tal pessoa se retirasse do hotel;

“… em muitos dos diálogos que mantinha com tais pessoas, era evidente que Chico sabia que a Andrade Gutierrez não efetuava vultosos pagamentos em nome próprio, mas para o Partido dos Trabalhadores, pelas pesquisas realizadas pelo Vox Populi;

“… recorda que Chico indagava ao colaborador se não havia interesse na realização de novas pesquisas;

“… o próprio Chico afirmava que trataria com Otávio Azevedo para que se acertassem quanto aos pagamentos;

“… posteriormente à campanha, a Andrade Gutierrez, segundo relatos de Otávio Azevedo ao colaborador, continuou a pagar o Vox Populi por interesse do PT, exemplificando que muito provavelmente efetuaram pesquisas em prol do Instituto Lula;

“… encontrou Marcos Coimbra em algumas oportunidades na própria sede do Instituto Lula”.

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