Direitos Já! cobra ajuda de 600 sem cortar Saúde

“A renovação do auxílio emergencial é urgente e fundamental, e não deve ser atrelada a nenhuma condicionalidade”, afirma manifesto do Direitos Já! Fórum pela Democracia

O movimento Direitos Já! Fórum pela Democracia! divulgou nesta quarta-feira (24) um documento pela imediata aprovação do auxílio emergencial e enquanto durar a pandemia da Covid-19, que será entregue à Câmara dos Deputados e ao Senado Federal.

O movimento, que reúne lideranças de 17 partidos políticos e economistas, defende uma renda emergencial de R$ 600, frente ao recrudescimento da pandemia e do agravamento da crise econômica, “por ser esta quantia compatível com o da cesta básica e, portanto, o minimamente necessário à subsistência das famílias“.

A renovação do auxílio emergencial é urgente e fundamental, e não deve  ser atrelada a nenhuma condicionalidade“, afirma o documento do Fórum pela Democracia, divulgado no momento em que o governo protela a definição sobre a ajuda emergencial e condiciona a renovação do auxílio a cortes em direitos constitucionais como na saúde e na educação.

A renovação do auxílio emergencial, por tratar-se de uma resposta a uma crise humanitária sem precedentes, similar a uma situação de guerra ou catástrofe natural, não pode estar condicionado a quaisquer outras políticas ou debates. A crise é séria, e o auxílio é emergencial. Vidas estão em jogo“, diz o documento do Direitos Já! que publicamos a seguir.  

APROVAÇÃO DO AUXÍLIO EMERGENCIAL JÁ 

OS QUADROS SOCIOECONÔMICO E DE SAÚDE SÃO GRAVISSIMOS 

Antes da crise atual da Covid-19 a economia brasileira já sofria com  tendência à estagnação, alto desemprego, desigualdade em ascensão e  baixa produtividade e competitividade. A pandemia agravou esse quadro,  jogando a economia brasileira novamente em recessão, o que pode  resultar em uma década perdida.  

A crise também escancarou as mazelas da desigualdade, atingindo  profundamente as populações mais vulneráveis social e economicamente.  A taxa de desocupação aumentou de 11,6% da força de trabalho para 14,1% entre os trimestres encerrado em fevereiro de 2020 e o terminado em novembro de 2020. Esta variação representa um aumento de  aproximadamente 1,7 milhão de desempregados e atinge a cifra de 14  milhões de desempregados. No mesmo período, 8,1 milhões de  trabalhadores perderam suas ocupações e pararam de procurar emprego  por força da pandemia. Somado o aumento do número de desempregados  com o êxodo de pessoas da força de trabalho, temos um contingente  adicional de quase 10 milhões de brasileiros (as) retirados (as) do mercado  de trabalho ao longo desse período.  

O Auxílio Emergencial injetou centenas de bilhões de reais na economia  brasileira, proporcionando renda para milhões de brasileiros que  perderam sua atividade econômica por conta da pandemia. Esta medida, que foi protagonizada pelo Congresso Nacional, impediu uma elevação  mais forte do desemprego e uma queda ainda mais brutal do poder de  compra da população, evitando uma tragédia social e amortecendo a queda do nível de atividade econômica ao longo do ano.

O encerramento do auxílio emergencial em dezembro de 2020 certamente provoca efeitos maléficos sobre os indicadores sociais e econômicos. Primeiramente, os 10 milhões de brasileiros vulneráveis, atualmente fora do mercado de trabalho, não terão outra alternativa  senão buscar retornar a este mercado, mesmo que em condições mais precárias, expondo-se ao risco de contaminação com uma cepa mais agressiva do vírus. Em segundo lugar, os efeitos macroeconômicos do encerramento do auxílio emergencial somente agravariam a crise, especialmente se acompanhado do retorno à gestão fiscal anterior ao  início da pandemia, ancorada no “teto de gastos” e na “regra de ouro”.  Neste caso, gerar-se-ia a maior contração fiscal da história do país, com  um efeito devastador sobre a demanda agregada e, por conseguinte, sobre a geração de emprego e renda.  

Os 10 milhões de brasileiros vulneráveis, atualmente fora do mercado de trabalho, não terão outra alternativa  senão buscar retornar a este mercado, mesmo que em condições mais precárias, expondo-se ao risco de contaminação com uma cepa mais agressiva do vírus.

Além da crise de emprego e humanitária, o Brasil se depara no início de  2021 com uma segunda onda de contágios de Sars-Cov-2. Dado o  excessivamente lento ritmo de vacinação, é pouco provável que uma  parcela significativa da população brasileira esteja imunizada até o final do  primeiro semestre de 2021. Para agravar o quadro, a temporada de  doenças respiratórias começa em abril/maio, o que deverá aumentar de  forma significativa o número diário de mortes pela Covid-19. 

Os efeitos macroeconômicos do encerramento do auxílio emergencial somente agravariam a crise, especialmente se acompanhado do retorno à gestão fiscal anterior ao  início da pandemia, ancorada no “teto de gastos” e na “regra de ouro”.  Neste caso, gerar-se-ia a maior contração fiscal da história do país, com  um efeito devastador sobre a demanda agregada e, por conseguinte, sobre a geração de emprego e renda 

Face a esse cenário, torna-se absolutamente necessária a renovação  imediata e incondicional do auxílio emergencial. Do contrário, teremos um  cenário macabro: o aumento exponencial do número de mortes  combinado com aumento exponencial da miséria e da fome. Trata-se de um cenário de “terra arrasada”, compatível com o vivenciado pelos países  europeus durante a segunda guerra mundial. 

A CRISE É HUMANITARIA, O AUXÍLIO É EMERGENCIAL 

A renovação do auxílio emergencial é urgente e fundamental, e não deve  ser atrelada a nenhuma condicionalidade. A renovação do auxílio  emergencial, por tratar-se de uma resposta a uma crise humanitária sem precedentes, similar a uma situação de guerra ou catástrofe natural, não pode estar condicionado a quaisquer outras políticas ou debates. A crise é séria, e o auxílio é emergencial. Vidas estão em jogo. 

A alegada preocupação com a situação fiscal não pode ser utilizada como  justificativa. Sequer há motivos técnicos para justificar tais alegações no  campo fiscal. De fato, em função da recessão e dos gastos com o auxílio e  das demais medidas emergenciais, a dívida bruta do governo geral passou  de 74,6% do PIB em janeiro de 2020 para 89,3% do PIB em dezembro do  ano passado. Porém, este aumento não é um caso isolado e restrito ao  Brasil: é um fenômeno mundial.  

Neste momento, é muito mais importante pensarmos em salvar vidas que  sanar imediatamente a dívida do setor público. Reiteramos que a situação  fiscal brasileira é sustentável e existe “espaço fiscal” para um aumento do  investimento público, mesmo porque a evidência empírica disponível mostra que não existe nenhum número mágico para a relação dívida  pública/PIB a partir do qual o mercado se recusa a financiar o governo. Vários países, muitos dos quais sem moeda própria, como, por exemplo, a  Itália e a Espanha, já ultrapassaram o patamar de 100% de relação dívida  pública/PIB e continuam se financiando normalmente com taxas de juros  reais muito baixas.  

NOSSA PROPOSTA 

Como regra geral, sugerimos a extensão IMEDIATA E INCONDICIONAL do  auxílio emergencial com valor compatível com a subsistência das famílias  e até a significativa melhoria dos indicadores relativos ao controle da  pandemia e à evolução da vacinação. 

VALOR: Propomos um valor inicial de R$ 600 (seiscentos reais), por ser esta quantia compatível com o da cesta básica e, portanto, o minimamente necessário à subsistência das famílias. 

PRAZO: No que concerne o prazo, propomos que este auxílio valha até o  final do ano fiscal, ou seja, 31 de dezembro de 2021, podendo ser  renovado caso o índice de transmissão (RT) permaneça acima de 0.9,  quando a população trabalhadora, especialmente a mais vulnerável, poderá retornar ao mercado de trabalho com um risco de contaminação significativamente menor. Caso o auxílio venha a ser renovado do prazo ao final deste primeiro período, será fundamental se considerar um valor reajustado que garanta seu objetivo fundamental de permitir a  sobrevivência das famílias que o recebem. 

REGRA DE TRANSIÇÃO: Recomendamos que, uma vez extinto o auxílio,  haja uma regra de transição para os meses seguintes. Sugerimos que, nesta transição, o valor do auxílio seja reduzido em R$ 50 por mês subsequente sempre que o índice RT continue em queda. 

FINANCIAMENTO: Preferimos que o auxílio emergencial não seja  financiado através da venda de títulos públicos ao mercado, para evitar o  aumento da dívida pública mantida por agentes privados. Na maioria dos  países, o mecanismo utilizado tem sido a venda de títulos pelo Tesouro ao  Banco Central. Se for uma solução politicamente complicada, por requerer  mudança constitucional, há alternativas, como a contabilização específica da contribuição dessa despesa para o aumento da dívida pública.Mas  reiteramos que a primeira alternativa de financiamento, se passível de ser  negociada e votada, seria melhor. 

A renovação do auxílio emergencial é urgente, e salvará vidas. Mas, como  descrevemos em documento anterior (Direitos Já!: Sugestão de Agenda  Econômica Mínima), é insuficiente para tirar a economia brasileira do  quadro de estagnação vivenciado ao longo da década passada: o Brasil  necessita urgentemente de uma agenda alternativa de recuperação  econômica. 

DIREITOS JÁ! FÓRUM PELA DEMOCRACIA

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