Ministro da Saúde diz que Brasil “possui hospitais em excesso”

Segundo Ricardo Barros, titular da pasta no governo Temer, apenas 1500 hospitais seriam suficientes para uma população de mais de 200 milhões de habitantes

O ministro da Saúde, Ricardo Barros (PP-PR), disse em entrevista à revista “Exame” que existe atualmente um “excesso de hospitais no país”.  Segundo ele, uma redução de 80% no número de hospitais daria conta da demanda no Brasil, e que não falta dinheiro para a saúde, “falta gestão”.

Barros diz ainda que o governo federal tem “cumprido o papel de financiar metade dos custos com a saúde”, e “enquanto nós não tivermos segurança de que todo o dinheiro está bem aplicado, não teremos moral de pedir mais recurso”.

Para ele, os 7500 hospitais do país são um exagero, “poderíamos resolver tudo com 1.500 hospitais. Esse é o dado estatístico com base numa análise criteriosa de atendimentos. Por que não fechamos hospitais? Por uma questão política. É difícil fechar um hospital”.

O ministro, que não é reconhecido por sua inteligência, não se prestou a esclarecer qual a análise criteriosa, ou dado estatístico, fora utilizado. Tampouco conseguiu explicar o porquê de tantas filas nas portas de hospitais por todo o país.

Para tanto, Barros disse que o problema é que muitas pessoas usam a UTI sem precisar. “Precisamos otimizar as estruturas disponíveis no sistema de saúde pública. Um terço das unidades de terapia intensiva é ocupada por pessoas sob cuidados paliativos. […] A reclamação de que leitos estão fechando é apenas a comprovação da eficácia do novo modelo, com estruturas como hospital-dia e saúde da família criadas para diminuir a hospitalização”, afirmou. Seja lá o que isso signifique.

Barros também defendeu tirar a decisão de fechamentos de unidades hospitalares dos governos, e passar para a iniciativa privada, “estamos propondo medidas como a formação de consórcios de gestão e rateio de custos. Dessa forma, a decisão de fechar uma unidade ou de ampliá-la não será mais do gestor local, será do conjunto dos que financiam o serviço”.

De acordo com dados do Sistema Nacional de Fiscalização do Conselho Federal de Medicina (CFM), de dezembro de 2010 a dezembro de 2015, foram fechados 24 mil leitos de internação na rede pública de saúde, resultando numa ainda maior sobrecarga nos serviços de urgência e emergência.  Ainda segundo o levantamento do CFM, 70% dos estados não têm o número mínimo de leitos de UTI recomendados pela Organização Mundial da Saúde, para garantir o bom atendimento à população. De acordo com a Organização, deve existir de 3 leitos hospitalares por cada mil habitantes e o Brasil está abaixo disso, com 2,4 leitos.

Sobre as centenas de unidades básicas e de pronto-atendimento fechadas no país, Barros destacou que o governo federal vai liberar algumas delas para as prefeituras e “o gestor poderá usar o prédio para o que é mais adequado ao interesse da população”.

Finalizando a entrevista, o gestor elogiou a verba de sua pasta, dizendo que “se considerarmos incentivos e estratégias federais, o financiamento não é ruim”.

Dados da OMS mostram que, entre os países com modelos públicos de acesso à saúde, o Brasil é terceiro no ranking dos países que menos investem na saúde nas Américas. Em 2014, apenas 6,8% do orçamento público brasileiro foi destinado à saúde, a frente apenas do Haiti e da Venezuela e bastante abaixo da média mundial (11,7%). Mundialmente o Brasil divide o ranking com Gana, Tajiquistão, Omã e Mongólia.

PLANOS

O ministro anunciou que os planos de saúde populares podem começar a ser vendidos ainda este ano, e que o início da comercialização depende da conclusão de análise técnica da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) sobre a flexibilização da regulamentação de planos de saúde no país. O grupo de trabalho inicial responsável por analisar o tema publicou seu relatório final no fim do mês passado.

O vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), José Antônio Sestelo, considera que o aumento do acesso a planos de saúde não gera mais recursos para a saúde pública e não melhora o acesso. “É um pacote muito restrito, a pessoa paga uma quantia pequena, mas também tem direito a uma contrapartida que é insuficiente para atender a necessidade de assistência da maioria das pessoas. Porque o que realmente importa, o que é caro, é a internação hospitalar. E é isso que as empresas estão querendo empurrar para o sistema público que, em última instância, vai arcar com esses gastos maiores. Ou seja, a pessoa vai comprar o plano, vai ter o plano e, na hora que realmente precisar, ela vai ter que recorrer ao sistema público que, por sua vez, está e estará cada vez mais sucateado, dado o congelamento dos recursos que eram destinados ao financiamento do sistema”.

O Sindicato dos Médicos de São Paulo, em nota, destacou que “o novo marco regulatório autoriza as operadoras a abandonarem seus usuários no momento que eles mais precisam: quando demandam procedimentos de alta complexidade. Os pacientes que precisarem de cuidados médicos terciários e de alto custo vão continuar superlotando os serviços do Sistema Único de Saúde (SUS). O advento da nova regulação acelerará a desorganização da rede de saúde pública, que já tem financiamento contingenciado devido a medidas impostas pelo governo de Michel Temer, como a Emenda Constitucional (EC) 95, que congela por 20 anos o orçamento público, incluindo os gastos com saúde. Esse retorno ao SUS gerará custos altos, o que demonstra que a afirmação do ministro Ricardo Barros que os planos acessíveis desonerariam o SUS é absurda e falaciosa”.

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