Fake News: Orlando defende investigar papel da publicidade nas plataformas

A Câmara dos Deputados reuniu na segunda-feira (20) especialistas e deputados, para debater como a difusão de publicidade e impulsionamento de mensagens alteram a responsabilidade das plataformas que veiculam conteúdo na rede mundial de computadores.

Os participantes também avaliaram de que modo é possível regular o setor, sem causar danos econômicos e ferir a privacidade de dados.

Este foi o quarto debate de um ciclo que vai discutir o projeto de combate às fake news (PL 2630/20), antes que o texto já aprovado pelos senadores vá à votação na Câmara.

O secretário de Participação, Interação e Mídias Digitais da Câmara, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), ressaltou a importância de ampliar o debate sobre o tema, particularmente em relação à responsabilidade das plataformas no que diz respeito a publicidade. “Acho que vale a pena uma investigação maior por parte da Câmara. Uma reflexão mais cuidadosa”, pontuou.

A relatora da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, deputada Lídice da Mata (PSB-BA), advertiu sobre  a força de divulgação do WhatsApp. “Por ser uma plataforma que garante a privacidade da comunicação, se transformou na principal forma de transmissão da desinformação, da notícia fraudulenta”, avaliou.

As novas regras para publicidade previstas no projeto enviado pelo Senado à Câmara dos Deputados foram alvo de divergências entre os debatedores. Jonas Valente, professor integrante do laboratório de políticas de Comunicação da Universidade de Brasília, afirmou que o texto votado pelos senadores acerta ao traçar um caminho de transparência.

Para ele, as empresas têm caminhado no sentido contrário no que diz respeito à publicidade. “Tem que identificar publicidade e impulsionamento e tem que identificar de forma destacada”, cobrou. 

Segundo Valente, o Google é um exemplo disso, por mais que seja um mecanismo de busca. “É um debate que a Câmara vai se debruçar, como o Google vem diminuindo a diferença entre o que é um anúncio e o que é um resultado de busca orgânico. Mesmo no Facebook os anúncios são muito menos destacados do que deveriam ser, isso é uma prática das plataformas”, apontou.

O professor da UnB defendeu a manutenção dos artigos 14 a 17 da proposta do Senado, que estabelecem, por exemplo:

– que provedores de redes sociais identifiquem todos os conteúdos impulsionados e publicitários, permitindo que o usuário acesse a informação da conta responsável pelo impulsionamento;

– que provedores que fornecerem impulsionamento de propaganda eleitoral disponibilizem ao público dados como valor total gasto pelo candidato ou pelo partido e identificação do anunciante;

– que disponibilizem mecanismos para fornecer aos usuários as informações do histórico dos conteúdos impulsionados e publicitários com os quais a conta teve contato nos últimos 6 (seis) meses; e

– que os provedores solicitem de anunciantes e contas que impulsionam conteúdos que confirmem sua identificação, inclusive por meio da apresentação de documento de identidade válido.

Marcelo Bechara (Advogado), Orlando Silva (PCdoB), Lídice da Mata (PSB), Mônica Rosina (Facebook), Jonas Valente (Jornalista e professor), Margarete Coelho (PP), Natália Bonavides (PT) e Israel Batista (PV). Fotos: Gustavo Sales – Câmara dos Deputados

A gerente de políticas públicas do Facebook no Brasil, Mônica Rosina, defendeu a empresa e citou ações da rede social que, na sua avaliação, buscam trazer mais transparência ao que é conteúdo publicitário, como a ferramenta que permite que o usuário edite suas preferências de anúncios e entenda por que determinado anúncio chegou até ele.

Rosina criticou o artigo que trata do armazenamento do histórico de conteúdos impulsionados e publicitários por seis meses (artigo 16). Segundo ela, o dispositivo colocaria em risco a privacidade dos usuários das plataformas e o mais adequado seria limitar a exigência apenas para anúncios e impulsionamentos eleitorais.

A gerente do Facebook também discordou do projeto na parte que pede a identificação de anunciantes. “Nos preocupa bastante o artigo 17, que exige documento válido de identidade a todo e qualquer anunciante. Tem um potencial de trazer um impacto econômico negativo muito grande sobre milhões de pequenos negócios porque vai tornar o processo mais lento e burocrático, sem a agilidade que é o que dá valor, hoje, à internet”, alegou.

“Não há nada de errado em ganhar dinheiro com publicidade, desde que seja de forma transparente”, apontou Marcelo Bechara, advogado especialista em Internet, que também defendeu a transparência. Ele observou que a publicidade nas redes sociais deve respeitar as leis brasileiras.

Bechara também defendeu que a responsabilidade da rede social se inicie a partir do momento em que houver pagamento por impulsionamento de informação.

“A partir do momento em que eu pago uma plataforma para impulsionar a minha livre manifestação, ela se tornou sócia. Não cabe a aplicação do artigo 19 do Marco Civil [da Internet], que diz que a plataforma só é responsável pelo conteúdo gerado por terceiro depois de ordem judicial. Nesse caso, não, ela recebeu financeiramente recursos para ampliar o alcance e direcionar”, observou.

João Camilo, representante da Associação Brasileira de Rádio e Televisão no debate, também defendeu a responsabilização das plataformas.

Com informações da Agência Câmara Notícias

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