“Com atual taxa de juros, economia não cresce”, afirma presidente da Fiesp

“O mundo, durante 15 desses 25 anos, praticou taxas de juros reais negativas”, diz Josué Gomes. “Praticando altas taxas juros reais por tanto tempo, cria-se uma situação de desvantagem competitiva em relação a outros países”

O presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, criticou o nível elevado da taxa de juros no Brasil e avaliou que quem está atuando contra a credibilidade do Banco Central (BC) é o próprio presidente da instituição, Roberto Campos Neto. 

“Com essa taxa de juros, é preferível deixar o dinheiro no banco em vez de investir na indústria”, afirma Josué Gomes. A taxa de juro nominal (Selic) hoje está em 10,50%, com o Brasil ocupando o segundo lugar no ranking mundial de juro real (descontada a inflação).

“Se você deixar o dinheiro no banco, aplicado em títulos do Tesouro, que são os títulos mais seguros de um país, você vai ter um retorno dessa magnitude. A empresa só tem duas fontes de recursos: recursos de terceiros, que com essa taxa de juros são proibitivos, e o lucro, mas nosso negócio ele tem diminuído porque a indústria é altamente tributada. Se a gente não resolver esses dois problemas, a indústria não vai investir e a produtividade vai continuar caindo”, alertou o empresário.

Durante um café da manhã com jornalistas na sede da entidade, nesta terça-feira (30), em São Paulo, o empresário citou também que, nos últimos 25 anos, a taxa de juros reais se manteve na média de 6%, enquanto outros países tiveram percentual bem menor, barateando os custos para capital de giro e investimentos em suas economias.

“O Brasil precisa entender que, praticando taxas de juros reais, por tanto tempo, cria-se uma situação de desvantagem competitiva em relação a outros países do mundo. É simples, é matemático. A economia não cresce, a taxa de juros reais é de 6% nos últimos 25 anos. O mundo, durante 15 desses 25 anos, praticou taxas de juros reais negativas”, apontou.

“Nos últimos 30 anos”, ressaltou o presidente da Fiesp, “o Brasil cresceu 2,4% ao ano, em média. O mundo, em média, cresceu 3,6%. Os países em desenvolvimento, dentre os quais nós nos incluímos, cresceram 4,9%. Nesse mesmo período de 30 anos, a indústria de transformação regrediu. Nós chegamos a ter 28% de participação no PIB e hoje temos algo como 11,5%. Acho que não é coincidência”.

Josué Gomes declarou que “o Brasil conseguiu criar essa narrativa de que o Copom é um conjunto de pessoas iluminadas com modelos matemáticos sofisticados e que, portanto, não erram. Os milhões de banqueiros centrais do mundo, inclusive brasileiros, têm a humildade de conversar com os setores”, criticou o presidente da Fiesp, em desaprovação à possibilidade do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manter a Selic em 10,5% ao ano na reunião desta semana. 

O empresário avalia, ainda, que é o próprio presidente do BC que pede para ser criticado, ao se posicionar e sinalizar que vai aumentar a taxa de juro em eventos que ele participa no exterior. Assim como Campos Neto também “politiza” o BC, quando aceita ser homenageado por adversários do governo e foi às urnas em 2022 declarando apoio a Jair Bolsonaro. “Ele optou pessoalmente por um posicionamento político. Se acabarem com a autonomia do Banco Central, o mérito vai ser todo do Campos Neto”, afirmou Josué.

Para o presidente da Fiesp falta ao atual governo “um José Alencar” para apoiar o presidente Lula na disputa por juros civilizados no Brasil, lembrando seu pai que foi vice-presidente da República nos governos Lula entre 2003 e 2010 e severo crítico dos juros altos. Alencar faleceu em 2011.

“Tinha alguém que falava com legitimidade sobre o assunto e ele [Lula] não precisava falar. Infelizmente, falta hoje no governo alguém que trate desse debate, então ele se sente na obrigação de falar”, observou.

Nesta quarta-feira (3), o Copom anuncia o novo patamar da taxa básica de juros (Selic), que vinha sendo reduzida a conta-gotas até a última reunião em junho, quando o BC interrompeu a queda nos juros sob protestos de entidades empresariais.

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