Casa Branca decide expulsar 50 mil refugiados haitianos

Relatório da ONU em janeiro diz que 2,5 milhões de haitianos precisam de ajuda humanitária devido ao terremoto de 2010. Xenófobo Trump mente para cassar “proteção temporária” aos refugiados

O governo Trump anunciou que não vai renovar o status de proteção temporária (TPS) para mais de 50 mil haitianos com residência legal provisória nos EUA, o que se deve segundo a Homeland (Secretaria de Segurança Interna) “aos notáveis ​​progressos realizados desde o terremoto de 2010 no Haiti” – e não, como quase todo mundo acredita, ao agravamento da xenofobia e racismo na Casa Branca.

Antes dos haitianos, 5.000 nicaraguenses nessa condição já foram avisados que começarão em breve a serem caçados pelos esquadrões armados da imigração e, quanto a 85 mil hondurenhos, a decisão ficou adiada para julho de 2018. Estima-se que são mais de 300 mil imigrantes nessa condição.

18 MESES

Os refugiados haitianos terão 18 meses, até à data final de expulsão, dia 22 de julho de 2019, declarou a secretária interina do órgão, Elaine Duke. Conforme a Homeland, as “condições causadas pelo terremoto de 2010 não existem mais” e quase 98% dos campos de pessoas deslocadas no terremoto do Haiti encerraram as atividades.

Duke também asseverou que “foram tomadas medidas significativas para melhorar a estabilidade e a qualidade de vida dos cidadãos haitianos” e que o Haiti “tem como receber com segurança os cidadãos devolvidos”.

A TPS foi criada por uma legislação promulgada nos anos 1990 para cobrir imigrantes incapazes de retornar aos seus próprios países por causa de conflitos armados e desastres ambientais. Tinha que ser renovada a cada 18 meses – por registro -, o que vem ocorrendo ao longo das duas últimas décadas.

No entanto, a TPS só se aplica aos que já estavam nos EUA no momento da designação e exclui aqueles que fugiram das mesmas condições depois. Trata-se de um status precário: o imigrante legalizado provisoriamente pode trabalhar e tem de pagar os impostos, mas não recebe qualquer benefício federal.

Também não há qualquer mecanismo para obter a residência permanente, nem como trazer os parentes deixados para trás. Qualquer imigrante provisório que seja condenado por um crime ou por dois delitos menores, é imediatamente privado da TPS.

As afirmações da Homeland sobre a situação no país mais pobre das Américas são cínicas e completamente falsas. O Haiti ainda luta para superar a devastação provocada pelo terremoto de 2010, pelo furacão Matthew de 2016, pela epidemia de cólera, pela “ajuda” intermediada pelos Clintons e pela intervenção estrangeira, depois de décadas de Papa Doc e da ocupação ianque no início do século passado.

Relatório de janeiro da ONU afirmou que 2,5 milhões de haitianos ainda precisam de ajuda humanitária. O terremoto de 2010, de magnitude 7.0, matou 316 mil pessoas e feriu 300 mil. Mais de 1,5 milhão de pessoas tiveram de deixar suas casas. 80% das moradias rurais foram destruídas ou danificadas, empurrando centenas de milhares para as cidades, sob tendas improvisadas. Escolas e hospitais foram varridos do mapa. A reconstrução tem sido lenta e precária, sob a tirania das ongs estrangeiras.

O governo haitiano – eleito em um pleito com 20% de participação – pediu ao governo Trump que prorrogue a TPS. No depauperado Haiti muitos dependem do dinheiro remetido exatamente por esses imigrantes que agora Trump quer deportar. E mais: os haitianos com status TPS têm 27 mil filhos nascidos nos EUA com cidadania, conforme o diretor do Conselho Americano de Imigração, Royce Bernstein Murray. A decisão de deportar vai lançar essas famílias no desespero.

De acordo com pesquisa do Centro de Estudos de Migração, mais de metade dos que são de El Salvador e de Honduras e 16% dos do Haiti, estão nos EUA há 20 anos ou mais, enquanto 68 mil deles – 22% – chegaram antes dos 16 anos de idade. Quase 30% pagam hipotecas de suas casas. Segundo analistas, assim como no caso do fim do programa dos “Sonhadores” – que autorizava legalização provisória daqueles que chegaram aos EUA na infância e adolescência -, o ataque aos refugiados status TPS visa servir de moeda de troca para Trump arrancar mais dinheiro para seu execrado muro na fronteira com o México.

ANTONIO PIMENTA

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