A TEIA DA ARANHA DOURADA – Episódio 7

Rodrigo Leste

No episódio 6, a equipe aborda as eleições presidenciais de 2014, o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, a impunidade que favorece os poderosos e o golpe, em 2016. Tratam da edição do filme e da reunião com Pasqualle.

Episódio 7

 Pasqualle deu um chá de cadeira de quase uma hora em Jane, Alfredo e Marco. Quando os recebeu estampou seu sorriso “comigo ninguém pode” e de maneira paternal colocou o assunto:

— Pra vocês, tudo é aventura, faz parte do processo, da idade, da falta de compromisso. Não vou dar uma de careta e ficar com papo moralista, mas desde o começo avisei que tudo tem limites. Fazer a cena, sentado numa privada, com a cueca samba-canção arriada, falando num celular, como estava no roteiro que recebi, é inadmissível, fora de questão. Vocês estavam de sacanagem comigo, pô.

Jane não consegue se conter e solta uma gargalhada. Logo se desculpa, sob o olhar preocupado de Marco e Alfredo. Pasqualle sorri de maneira complacente, deixando entrever uma ponta de lascívia ao olhar para Jane.

— Vamos assistir de novo a cena? — propõe Alfredo.

Marco coloca seu notebook sobre um aparador e põe a sequência para rodar. Os quatro assistem de pé. Pasqualle não consegue segurar umas tantas risadas.

— Sensacional! — Alfredo comenta. — Não é por estar na sua presença, mas você conseguiu dar o tom exato que imaginei pro personagem.

— Gostei da cena, não há como negar — observa Pasqualle. — O texto é atual, inteligente, dez vezes melhor do que o lixo da televisão. É claro que o resultado, enquanto cinema, é amador, mas me parece que isso faz parte do charme da produção. Estou certo?

— É pobreza mesmo, Pasqualle — arremata Alfredo. — Estamos fazendo mágica, não temos um tostão furado pra pôr na parada, é tudo na brodagem, sabe como? Uns ajudando os outros e boa.

— Tostão furado… me fez lembrar do Dólar Furado, não é? Faroeste com o Clint Eastwood.

— Acho que o do Clint é Por Um Punhado de Dólares… — diz Marco.

— Guenta aí que eu vou dar uma googada e conferir — diz Jane, com o celular na mão.

— É, acho que você tem razão… — hesita Pasqualle, tentando se lembrar do nome do interlocutor.

—…Marco, Pasqualle. “Paçoca” para os íntimos — ri.

— Paçoca! Vocês têm cada uma! — exclama Pasqualle, bem humorado.

— Aqui ó — Jane mostra a tela do celular. — O Marco tem razão. Por Um Punhado de Dólares é com o Clint Eastwood. O Dólar Furado é o tal dofaroeste espaguete”, com o Giuliano Gemma.

— Muito bom — afirma Pasqualle. — Vocês são rápidos mesmo no gatilho, esse celular de vocês é a pistola do relâmpago, uma beleza.

— Tem uns faroestes espaguetes”, sensacionais — diz Alfredo. — Pra mim o melhor é o do Sergio Leone, Era Uma Vez no Oeste, não é este o nome, Marco?

— Esse eu vi há muito tempo — lembra Pasqualle. — Excelente!

— Demais — emenda Marco. — Aliás, o Por Um Punhado de Dólares também é direção do Leone, a mesma linha do faroeste espaguete”. Aliás, deve ter sido aí que o Clint Eastwood aprendeu a fazer faroeste.

— A gente poderia passar o dia aqui falando de cinema, ia ser uma beleza, mas a minha secretaria já enviou uma mensagem, estou atrasado dez minutos para a próxima reunião. Vamos marcar um jantar com toda a equipe, por minha conta, aí a gente pode falar à vontade.

Marco, Alfredo e Jane se entreolham. Começam a se levantar para sair.

— Bom, Pasqualle, foi um prazer. Mais uma vez obrigado por tudo — Alfredo estende a mão. — Mas… como ficamos? O filme, você sabe…

Pasqualle oferece a todos um sorriso sinistro.

— Como é para o bem do povo e felicidade geral da nação, diga ao povo que… topo! — Ah; e mais uma coisa: tô com vontade de convocar essa moça pra prestar uma assessoria aqui. Tenho muito que aprender com ela.

Fim do Episódio 7

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