A TEIA DA ARANHA DOURADA – Episódio 3

RODRIGO LESTE

 

No episódio 2, a equipe realizou filmagem no escritório de Pasqualle, engenheiro bem sucedido que dá “uma de ator” e interpreta um ministro todo poderoso. Com a sua interferência, o caso do helicóptero carregado de “pó” é abafado.

 

Episódio 3

 

A filmagem no escritório do engenheiro Pasqualle foi uma exceção. A maior parte da produção, por falta de outras locações, é feita no apartamento de Janete, a “Jane”, uma morena simpática que mora no centro de Belo Horizonte, perto do Mercado Central.

Plínio, mais conhecido como Geleia, “interpreta” o senador Cheiroso e Marco Polo, o Marco, faz o “papel” de Paçoca.

Ambos já estão a postos.

— Atenção — grita Alfredo. — Roda!

 

(Paçoca no celular)

— Não falei, compadre, a poeira já tá assentando. Só os mesmos chatos de sempre tocam no assunto, além, é claro, dos comunistas nas tais redes sociais.

— É, Paçoca. Por enquanto tá dominado. Mas tenho a sensação que temos uma bomba relógio ligada no porão. Esse troço não me cheira bem.

(Paçoca pensou em fazer um trocadilho com a palavra cheira, mas apenas sorriu. Cheiroso notou)

— Tá rindo do quê, compadre? A coisa é séria.

— Né nada não, Chefe, é que lembrei da cara da Anita, aquela que eu papei ontem — Paçoça ri à vontade.  — Precisava ver como ela ficou quando a porra toda esguichou na cara dela.

— Ô Paçoça, me ajuda aí, né, vê lá se é hora de você me contar detalhe das suas transas, porra. A situação é grave, alguma coisa me diz que vai acabar dando merda. Você tem que pensar na minha reputação: sou candidato forte, quero ganhar essa eleição, arrancar o Partido dos Trabalhadores do poder, acabar com eles e dar um jeito nesse país. Tenho um compromisso moral com a minha gente.

(Paçoca não replica, mas pensa: “o Cheiroso sempre adorou contar as suas transas, tudo bem detalhado, certamente aumentando aqui e ali. Na hora que solto uma sobre o meu lance, o cara vem dar uma de certinho… Qualé? E agora me sai com compromisso moral”. Engole o riso)

(Paçoca continua a sua fala)

— Relaxa, Chefe, relaxa.  A mídia já calou o bico. Sucesso total da “operação silêncio”. O ministro é foda mesmo!

— Uma cagada dessas deixa marcas, Paçoça. Seu filme tá mais do que queimado, pode saber, e a minha reputação está manchada.

— Tem que ser cascudo, compadre. Isso passa. Não dou dois meses e ninguém mais lembra disso — pondera Paçoca.

— Tenho que construir a imagem de político respeitável, tenho que servir de exemplo, fazer com que me associem ao meu tio, um modelo de comportamento pra essa nação — argumenta Cheiroso coberto de preocupação.

— Vai dar tudo certo, compadre. Sua candidatura vai de vento em popa.

— Deus te ouça, Paçoca, Deus te ouça — Cheiroso pensa que tem que se afastar de Paçoca, a mídia não pode ligar sua imagem à dele. — Devemos essa ao ministro, compadre. Olho vivo, hem, nada de baixar a guarda (desliga).

 

 

— Corta! OK. Valeu. Parabéns, bravo! — aplaude Alfredo. Gui assovia.

Marco e Geleia se cumprimentam rindo, satisfeitos com suas interpretações.

— Tá ficando bom, galera — comemora Geleia, pegando o copo de água que Jane lhe oferece. — Tá melhor do que eu esperava.

— Cinema se faz com uma boa edição, Geleia, a gente tem um material razoável, mas precisamos conseguir melhorar o acabamento, a finalização.

— Podes crer, Fredo, é isso aí — diz Marco.

— Pessoal, pessoal, acabou de chegar uma mensagem do Pasqualle — fala Jane, de olho na tela do celular. — Disse que não é pra fazer nada com a cena que participou. Quer ver tudo editado, consultar umas pessoas e decidir se autoriza a utilização de sua imagem.

— Tava bom demais pra ser verdade… — fala Renato lendo a mensagem no celular de Jane. — Sempre achei que esse burguês ia mijar pra trás.

— Calma, calma. Vamos mostrar a edição da cena pra ele — pondera, Marco. — Se quiser, Fredo, marcamos com o Pasqua e eu vou com você.

— É foda! – exclama, Geleia. — Quando a gente consegue fazer um gol, vem o juiz e marca impedimento. Merda!

— Se ele engrossar vai melar nossa parada — murmura Gui.

— Vou ligar e marcar uma hora pra ir mostrar pra ele a cena editada. Você leva seu notebook, Marco, fica melhor pra ver. E a Jane podia vir também, acho que o sujeito foi com… com a sua cara — Alfredo faz a mímica do “violão”, rindo para Jane que sorri meio sem graça e pergunta:

— Mudando de assunto, que quê vocês acham de criar um grupo no whatsapp pra gente?

 

Fim do Episódio 3

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