A pedido da PGR, PF vai apurar conexão de doadores de Bolsonaro com as milícias digitais

Parlamentares pediram ao STF que Bolsonaro fosse investigado no caso da “vaquinha” feita por apoiadores para pagar dívidas, por crimes cometidos durante a pandemia da covid-19, entre 2020 e 2021

O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), atendeu ao pedido feito pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e determinou que a PF (Polícia Federal) analise o caso das doações realizadas, via PIX, para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Relatório produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), órgão de combate à lavagem de dinheiro do governo federal, apontou que Bolsonaro recebeu R$ 17,2 milhões via PIX, em conta pessoal, nos primeiros 6 meses do ano.

Parlamentares pediram ao STF que Bolsonaro fosse investigado no caso da “vaquinha” feita por apoiadores. Em parecer ao STF, o subprocurador Carlos Frederico Santos defendeu que o caso fosse enviado para a PF para que os investigadores possam apurar se há conexão entre a “vaquinha” para o ex-presidente e o inquérito das milícias digitais, relatado por Moraes.

PARECER DA PGR

Em parecer, a PGR escreveu considerar “relevante” a análise do caso pela PF “para apurar se as informações prestadas nesta representação efetivamente possuem conexão com o objeto destes autos”.

A representação citada é o pedido de investigação de autoria dos senadores Randolfe Rodrigues (Sem Partido-AP), Fabiano Contarato (PT-ES) e Jorge Kajuru (PSB-GO), e da deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

A PGR quer saber, ainda, especialmente, se as transações atípicas, noticiadas pelo Coaf à CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) do 8 de janeiro, foram realizadas por doadores envolvidos na organização criminosa investigada no inquérito das milícias digitais.

Leia a íntegra do parecer:

“Trata-se de inquérito instaurado para o prosseguimento das apurações em relação aos eventos de nos 1 a 5 apontados pela Polícia Federal no relatório parcial de investigação juntado aos autos do Inquérito nº 4.828/DF, em razão da presença de indícios da existência de suposta organização criminosa, de atuação digital e com núcleos de produção, publicação, financiamento e político semelhantes àqueles identificados no Inquérito nº 4.781/DF, com a finalidade de atentar contra a Democracia e o Estado de Direito”, relata a PGR no parecer.

“Esclarecem [os deputados denunciantes] que a maioria dos doadores também figuram como investigados por atos atentatórios à ordem democrática”, diz o procurador.

Os dados do Coaf mostram que entre 1º de janeiro e 4 de julho, o ex-presidente recebeu mais de 769 mil transações por meio do PIX, que totalizaram R$ 17.196.005,80.

O valor corresponde à quase totalidade do movimentado pelo ex-presidente no período, de R$ 18.498.532,66.

PAGAMENTO DE MULTAS

O órgão de combate à lavagem de dinheiro afirma no relatório que as transações atípicas podem estar relacionadas à campanha de doações organizada por aliados de Bolsonaro com o objetivo de pagar as multas impostas ao ex-presidente ao longo dos últimos anos.

A vaquinha foi organizada para levantar dinheiro para que o ex-presidente pudesse arcar com o pagamento de multas aplicadas e eventuais novas punições por ter desrespeitado o uso obrigatório de máscara em espaços públicos durante o auge da pandemia do novo coronavírus.

LEGITIMIDADE

No parecer, o procurador questiona a legitimidade dos autores da representação.

“Conforme reiteradamente sustentado pela Procuradoria-Geral da República, a legislação processual penal não contempla a legitimação de terceiros, sem qualquer ligação com os fatos, para a postulação direta da abertura de inquéritos, da decretação de medidas cautelares e da realização de diligências investigativas relativas a crimes de ação penal pública”, observa.

“É inadmissível a intervenção parlamentar nestes autos, conforme os argumentos jurídicos apresentados em diversas oportunidades”, acrescenta.

Contudo, o representante da PGR considera graves as denúncias, nega provimento para os pedidos dos parlamentares, mas solicita que o Alexandre de Moraes encaminhe para a PF investigar. “Não obstante, mostra-se relevante o encaminhamento da representação à Polícia Federal para apurar se as informações prestadas nesta representação efetivamente possuem conexão com o objeto destes autos. Em especial se as transações atípicas, noticiadas pelo COAF à mencionada CPMI, foram realizadas por doadores envolvidos na organização criminosa investigada nestes autos”, diz a PGR.  

Compartilhe

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *