Coibir crimes na internet é “inevitável e inafastável”, afirma Flávio Dino no Senado

Ministro da Justiça defende urgente regulação das plataformas digitais. Para Dino, portaria editada pela Secretaria Nacional do Consumidor, que impõe medidas preventivas aos provedores de conteúdo, é insuficiente. “Nós precisamos de leis”, defende

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, defendeu em audiência no Senado, na quarta-feira (13), a agilidade do Congresso Nacional em relação à regulação das plataformas digitais. Para ele, coibir os crimes na internet é “um desafio inevitável e inafastável”, mas tem como obstáculo a “busca de perfeição”.

O ministro argumentou que é falsa a contradição entre defesa da regulação e a liberdade de expressão. “É falsa a antinomia (contradição) entre quem defende regulação e quem defende liberdade de expressão. Isso é uma falácia. Na verdade, quem defende a regulação defende a liberdade de expressão, que em nenhum país do mundo significa vale tudo. Liberdade de expressão é sempre regulada. Sempre, em qualquer país do planeta Terra. A família é regulada, o casamento é regulado, mas as plataformas digitais não podem ser reguladas em nome da privacidade? Isso é um paradoxo, uma contradição que não se sustenta de pé. Esse desafio de regulação é inevitável, é inafastável”, explicou.

“Quem defende a regulação das plataformas digitais defende a liberdade de expressão, que em nenhum país do mundo significa vale tudo. É uma falácia essa contradição, que não se sustenta em pé”

Para o ministro, “não existe lei perfeita, porque a linguagem é marcada pela ambivalência. O coração do cardiologista não é o coração do poeta. A mesma palavra pode ter múltiplos significados”, pontificou.

“Em temas de vanguarda, como inteligência artificial e internet, há uma busca de lei perfeita, que é idealista, não existe. Minha modesta sugestão é que temperemos essa busca de perfeição com ousadia. Se não acelerarmos o passo, teremos uma desregulamentação total, que é deletéria, ou teremos sempre legislações atrasadas”, afirmou o ministro.

“Se não acelerarmos o passo, teremos uma desregulamentação total, que é deletéria, ou teremos sempre legislações atrasadas”

O ministro da Justiça foi convidado para discutir as diretrizes do Poder Executivo na área de Direito Digital. O presidente da CCDD (Comissão de Comunicação e Direito Digital) do Senado Federal, Eduardo Gomes (PL-TO), que defendeu a harmonização de temas como políticas, legislação e regulamentação do direito digital.

“Consideramos que a interlocução entre governo e Congresso Nacional facilita a criação de políticas públicas que garantam direitos e deveres dos usuários, empresas e governos, além de promover a transparência e a participação democrática no processo decisório que envolve o uso da tecnologia e da internet”, justificou o parlamentar no requerimento de audiência pública.

PL DAS FAKE NEWS

O ministro falou sobre o tema em audiência pública, nesta quarta-feira, realizada na CCDD. Na ocasião, ele parabenizou a Casa por aprovar o PL 2.630/20, conhecido como PL das Fake News.

O PL é de autoria do senador Alessandro Vieira (MDB-SE). Na Câmara, o projeto de combate às fake news é relatado pelo deputado Orlando Silva (PCdoB-SP)

O texto deve voltar às mãos dos senadores se for aprovado pela Câmara dos Deputados, onde aguarda consenso sobre qual deve ser o órgão regulador.

Dino também defendeu a aprovação do PL 2.628/22, que garante proteção a crianças e adolescentes em ambientes digitais. “Entre tantas preocupações, as crianças devem sempre estar na frente, pois são o público mais vulnerável”, disse.

DEVER DE CUIDADO DAS PLATAFORMAS DIGITAIS

Nos dois casos, o ministro reitera a colaboração feita pelo ministério ao Congresso Nacional, de criar lei que amplie o dever de cuidado das plataformas digitais frente a conteúdos nocivos como pedofilia, fraudes e apologia à automutilação.

Para ele, a portaria editada pela Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, que impõe medidas preventivas aos provedores de conteúdo, é insuficiente.

“Nós precisamos de leis, são temas novos. É possível uma regulação administrativa? Sim, claro. Mas ela nunca vai ser plenamente eficaz. É possível que o Poder Judiciário julgue? Sim, claro, mas isso não vai abranger a regulação do futuro”, disse Dino na audiência pública no Senado.

Fonte: Agência Senado

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